sábado, 10 de julho de 2010

QUIMIOTERAPIA

Mal tive tempo pra assimilar o câncer e fui imediatamente enviada à quimioterapia, eu já havia lido muita coisa nos dias que antecederam ao diagnóstico, foram dias de angustia e medo, e no medo eu busquei respostas, respostas que me levassem a certeza de que o que eu tinha.  Ela veio com a confirmação do tumor e o prognóstico: Quimioterapia: quatro, para diminuir o tumor inoperável, mais quatro depois da cirurgia. Meu marido ficou imóvel (tudo que eu contar sobre mim, pode incluir meu marido, é a minha sombra, tadinho sofre comigo, gênio dificil, mas não deixem ele saber que eu chamei ele de tadinho, eu nego). Lembro-me que antes de sair do consultório perguntei ainda: É a tal vermelha doutor? Sim, respondeu o médico com pesar... Das que cai o cabelo?... Das que cai o cabelo...
E tantas outras perguntas ficaram...Choro no corredor, olhares curiosos,  olhares de pena outros compreensivos. Não estava ligando, um filme passava em minha mente,via meus filhos, minha mãe. A enfermeira compreensiva pediu pra que me acalmasse, mas nada fez para tal, apenas me furou, e eu a vi injetar a temível vermelha, ao lado outras pessoas parecia tudo um sonho ruim do qual eu não fazia parte.
Cheguei em casa me sentindo bem, afinal o bicho não era tão feio assim. Dolo engano, a madrugada foi de vômitos intensos, foi assim durante dias, não conseguia comer. A pressão arterial subia e os batimentos cardíacos diminuíram, minha já existente miocardiopatia parecia piorar.
Todos os dias me olhava no espelho, não havia nada de diferente em mim,sentia os efeitos colaterais da quimio, mas ainda era eu...Aflita eu procurava evidências da doença, meus cabelos continuavam firmes, mas eles caíram...Antes disso o couro cabeludo doía, coçava, não queria mais acordar em meio a cabelos, e enchi de coragem e raspei o que restava, e por incrível que pareça,foi um alivio. A história se Sansão às avesas, eu me fortaleci, mais ainda quando assumi a carequice em meu Orkut. A imagem refletida no espelho continuava a ser a minha, sem cabelos, mas eu...
Na segunda consulta eu já havia me tornado expert em carcicona, o encontro com tantas outras mulheres que vivenciam a mesma luta, tinha acalmado o desespero inicial. Fui munida de muuuuitas perguntas, algumas eu fiz, outras não tive coragem por temer a resposta. Novamente surpreendida, eu teria que trocar a medicação, pois a vermelhinha estava afetando o coração, iria fazer taxol. Demoraria mais, 6 horas, eu teria dormência nas mãos e nos pés, mas não teria o mal estar sentido pela outra. Que bom, menos efeito colateral! Sim, me livrei dos vômitos para sentir a dor mais doída que já senti, como bem descreveu uma amiga da comunidade, Não é nem o caso de dizer que o corpo dói como se eu tivesse levado uma surra: o corpo dói como se eu tivesse levado uma surra e sido atropelada por um trem em seguida...
Foi assim na segunda, na terceira, ainda virá a quarta e última antes da cirurgia. Haja Momo... Nome carinhoso que minha amiga Bibi deu a minha morfinete, Dimorf. Eu me sinto fraca, enjoada, tenho azia, num dia constipada,  no outro com diarréia, os pés gelam, a careca sua,  as unhas quebram, roxearam, a pele resseca, o corpo incha, reclama da química que antes não recebia, a fome aperta, apetite descomunal, imunidade desce, imunidade sobe;  “defeitos colaterais” encontrados no Google, outros não, misturados a um turbilhão de “defeitos colaterais” próprios da gente.
Ah, e tem os efeitos colaterais da quimio que não se encontram em bibliografia alguma, a tosca vontade de pegar uma vassoura e sair limpando a casa, a babaquice de querer lavar calçadas, louça, cozinhar. Cantar feliz passando lustra móveis, se aventurar numa maratona por  2 quadras não podendo sair da cama, enfim, esses tipos de emoções que são adrenalina pura...
Quimioterapia é um mal necessário, embora aliada contra a luta, pode ser nossa algoz. Posso falar por mim, embora a cada quimio eu esteja mais debilitada e os efeitos colaterais muitos, ter fé, paciência e não estar só, alivia e muito tudo isso. Não teria suportado não fosse minha família, amigos a impulsionar, e a cumplicidade da Bibi ; a certeza de nunca, em qualquer hora eu estar sozinha, era abrir o MSN e sentir meu anjo mal do outro lado, estivesse ela OFF ou não; uma sabendo da outra. Ela me fazendo rir quando a dor era insuportável e eu mentindo me dizia bem, me ameaçando bater com um gato morto (isso deve ser coisa de gaúcho) por eu lavar calçadas. Eu preocupada se os enjôos que sentiria seriam fortes como os meus, o que não aconteceu e vem evidenciar que cada caso é um caso. Dificil manter o bom humor, evidente, mas #$%&*, pior ainda é ficar curtindo dor. ..

3 comentários:

Lucia Lombardi disse...

Meu CA foi de ovario, ainda estou na terceira quimio, mas minha mae teve ca ha 21 anos de mama. tempos bem mais dificeis...ela foi desenganada, mas sobreviveu, acreditou, Deus a ouviu, 21 anos atras. desejo sinceramente que esta mesma fe invada o coracao da Bi e da Li, e que essas duas possam ser um canal de amor para ajudar a tantas outras que neste momento nao sabem nem o que fazer! Um beijo pras duas!

Marisa B R Calandrim disse...

Essa dupla, nossa vc são feras!!!Parabéns pelo blog, esta muito legal. Bjos e fiquem com Deus sempre.

Anônimo disse...

Parabéns ao blog

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Obrigada por ler o blog, fico feliz que esteja aqui. Deus nos abençoe!!!!